Vila de Prakol

A mulher segura a mão de Yun, respondendo a garota:

???: Não se preocupe com algo como eu atacar você, isso não vai acontecer. Aliás, sobre ele... ele vai ficar bem, e provavelmente não vai se lembrar de você quando acordar, acertei a pedra com essa intenção. Mas agora, vamos pra outro lugar, seria ruim se alguém descobrisse que você está aqui. Você também acha, não?

A mulher abre a porta daquele cômodo sem fazer barulho nenhum e observa o lado de fora por alguns segundos. Então, ela toma Yun pela mão e começa a caminhar pela mansão sem fazer nenhum ruído, evitando quaisquer olhares até chegar em um quarto que ela abre sem dificuldade. Após ambas entrarem no quarto, a mulher parece mais aliviada.

???: Se sente ali - a mulher aponta para uma cama que ficava encostada no fundo da parede - e vamos tratar desses ferimentos.

A mulher começa a caminhar até uma espécie de escrivaninha, retirando bandagens e um pote com uma substância esverdeada. Olhando melhor o quarto como um todo, ele possuía uma grande estante de livros, a maioria com capas grossas e com alguns símbolos mágicos ao lado. Da escrivaninha de onde a mulher havia retirado as coisas para tratar Yun, dava para se ver que haviam alguns livros abertos e anotações feitas, além de um bloco de notas que parecia ser tão antigo que já tinha até as folhas meio amareladas. Apoiada no canto mais ditante da porta do quarto estava uma espada com uma lâmina bem estranha e um cabo único, certamente um design que Yun nunca havia visto antes.

???: Então, quem é você, pequenina? O que veio fazer por aqui?

Pergunta a mulher, ao se aproximar da garota lupina com a bandagem e o pote com a substância estranha.

Yun dá um sorriso para mulher ao ouvir que não seria atacada por ela. Em parte por que estava cansada e ferida demais para lutar agora, mas também por que não queria lutar contra ela. Aquela mulher trazia uma sensação nostálgica muito boa, seria difícil Yun sentir algum tipo de hostilidade contra ela.

Yun - Que bom! Não que seja bom ele ficar assim desmaiado, mas que bom que não vai se lembrar de mim.

A menina deu outro sorriso enquanto a mulher lhe guiava pela mansão sem trazer nenhuma atenção para as duas. Pelo que Yun podia notar, era uma boa espiã. Quem sabe suas missões não fossem todas por baixo dos panos? Quem sabe ela não fizesse todo o trabalho sujo de Matthias? Faria sentido, pois dessa forma ele não atrairia atenção para si. E a mulher por ser uma agente secreta, não existiria aos olhos das pessoas de fora da mansão. Era um ótimo plano.
Foi quando Yun entrou no quarto onde a mulher havia lhe levado, e assim como pedido, sentou-se na cama e observou todo o recinto. Não parecia um quarto de luxo, para fazer parte de uma mansão como aquela. Mas aquelas estantes eram tão grandes e possuíam tantos livros que fez Yun pensar se a mulher também não poderia ser uma estudiosa. Sua mãe possuía uma sala parecida, repleta de livros com capas grossas e símbolos mágicos. Alguns Yun podia reconhecer de sua antiga casa, agora em cinzas. Outra coisa que lhe chamou a atenção foi a espada, encostada na parede distante do quarto. Com certeza nunca havia visto uma arma como aquela.


Yun - Uh, obrigada por me ajudar moça. Eu sou Yun - disse, ainda observando o quarto e só então parando para olhar a mulher nos olhos - Vim com uns amigos em uma missão. Eles estão naquela pousada que tem um animal estranho entalhado na porta. Dizem que é um lobo, mas não é nada parecido... enfim, e você? Quem é?

A mulher se senta ao lado de Yun, colocando os medicamentos entre as duas. Antes de começar a tratar da garota, ela responde sua pergunta.

Kya: Meu nome é Kya. Yun é um nome muito bonito, ele combina com você.

Kya sorri para a garota e faz um cafuné nela brevemente. Então ela abre o pote com a substância estranha e ergue o braço de Yun, começando o tratamento. A substância verde era fria e tinha um estranho frescor, além de um cheiro doce e suave. Assim que era aplicado, a mulher cobria o local da ferida com a bandagem de maneira bem leve de modo que não apertasse a ferida da garota.

Kya: Então, está gostando de Prakol? Não se tem muitas coisas pra se fazer por aqui, mas é um lugar bem pacato.

Ao ouvir o que a mulher disse, Yun abriu um sorriso que só aumentou ao sentir o cafuné. Kya era uma mulher amável, era impossível pensar que ela podia trabalhar para um homem que nem Matthias Blackhorn. Era impossível pensar que ela pudesse ter algo a ver com o desastre em Terdemut.
A menina-lobo deu algumas fungadas no ar após Kya ter passado a substância verde nos seus ferimentos. Era um odor agradável, mas que poderia tornar-se enjoativo com o faro avançado de Yun.

Yun - Kya também é um nome bonito, minha mãe dizia que era um belo nome. Combina com você também - Yun sorriu, deixando seus caninos pontudos expostos - Estou achando uma ótima cidade, mas ainda prefiro Ambelis. Morei lá com a minha mãe, e na floresta com os meus familiares. Você trabalha pro Matthias, senhora Kya?

Os movimentos de Kya parecem ficar mais lentos por um momento, e sua expressão fica mais triste. Porém, ela rapidamente volta ao seu ritmo anterior.

Kya: Bem, você pode dizer que o Matthias Blackhorn é como uma espécie de... patrono dos meus estudos. Ele financia minha pesquisa, então você pode dizer que eu trabalho pra ele. Mas, mudando de assunto, você também é de Ambelis? É minha cidade natal, mas pensando bem já tem um tempo que saí de lá. A cidade deve ter mudado bastante nesse tempo.

Kya termina de passar o remédio e de cobrir os ferimentos de Yun, e então volta a fazer cafuné na garota.

Kya: Então Yun, está se sentindo melhor agora? Em pouco tempo você deve ficar como estava antes, sem nenhuma marca dos ferimentos da batalha que teve hoje. Mas você tem que prometer pra mim que vai descansar bastante e não vai se esforçar muito até lá, certo?

Yun observa a expressão da mulher mudar ao falar sobre Matthias. Ali estava o que ela queria. Kya não trabalhava para Matthias por que queria, ele devia usar de algum outro artifício para poder controlá-la. Ora, uma mulher que lutava tão bem com aqueles cordões podia muito bem cuidar de um homem como Matthias. Ainda mais morando na mesma mansão que ele. Então deveria existir uma razão mais profunda por trás de tudo.

Yun - Eu vi que você é uma estudiosa. Minha mãe também era, sabia? Eu lembro de muitos desses símbolos lá em casa, nas estantes dela. Mas não sou muito boa com leitura... - disse, com um pouco de vergonha - então não segui esse caminho. Aliás, Ambelis está ótima... pelo menos da última vez que fui lá, estava bem. Terdemut é que... bem - Yun desviou o olhar para o lado, sem querer trazer o assunto do massacre logo agora. Se Kya tivesse feito algo lá, ela saberia qual a missão que a menina e seus amigos tinham - Eu prometo, senhora Kya, vou descansar bastante. Ou pelo menos o máximo que conseguir, você sabe, nós estamos sempre em conflito com os outros, por alguma razão.

A mulher afasta a mão da nuca de Yun e sua expressão facial parece vazia por um breve momento.

Kya: Sempre em conflito com os outros, não é? Qual a motivação que você tem pra seguir esse caminho, Yun? Que tipo de futuro você quer alcançar desse modo?

Então o sorriso suave que ela carregava antes volta para seu rosto, e ela retoma o cafuné que fazia na garota.

Kya: Ah, esqueça que eu perguntei isso, cada um de nós tem uma batalha pessoal diária que não precisamos compartilhar com quem a gente mal conhece. Você é uma boa garota, Yun. Então, depois de descansar, se você quiser, eu poderia te ajudar com esse problema que você tem com leitura, pois tenho certeza que você deve adorar uma boa história, e o mundo dos livros é perfeito para se encontrar coisas assim.

A mulher se levanta da cama e se afasta de Yun, guardando os medicamentos que tinha aplicado na garota. Se virando para a garota, Kya fala, com um tom meio triste na voz:

Kya: Então Yun, agora que já apliquei o medicamento em você e que nós já conversamos um pouco, acho que é hora de partir, não? Seus amigos devem estar preocupados com você e você já deve ter se cansado de conversar comigo por agora... Se você quiser, eu posso te levar até a rua sem sermos vistas.

O Evento estava sendo relaxante para Ed, apesar de sempre haver vozes aleatórias aonde quer que fosse.

Retornou a praça principal, porém agora tinha diversas pessoas sentadas, passeando ou tentando demonstrar seu trabalho artístico.

Conseguiu sentar no mesmo banco que tinha sentado mais cedo, então começou a refletir o que poderia ajudar a ocupar seu tempo na semana que se seguiria.

Ryoth:  Não, Kenn [já saiu apelidando a galera], acho que não seria uma boa ideia ... se os Blackhorn são tão importantes assim, eles com certeza estão acima da lei, certo? - ele dá uma palmada conciliadora no ombro do eloziano, e sorri - mas não se preocupe, eu tenho certeza que a mocinha vai se dar bem, e tudo vai ficar certo. E se não ... bom, digamos que ela me passou um plano B.

O wescan, então, puxa levemente a manga do elosiano

Ryoth: Melhor continuar a patrulha, certo? Se não, vamos acabar levando uma bronca logo no primeiro dia.

Yun escuta as palavras de Kya com atenção. De fato, era uma pergunta cuja resposta a menina-lobo não sabia. Na verdade, nesse momento, não lembrava-se o ponto onde tudo começara. Essa sua viagem com seus amigos, todos os conflitos e mortes desnecessárias... E se esse interrogatório com Matthias não levasse em nada? E se os Blackhorn não fossem os reais culpados da tragédia em Terdemut?
Há muito Yun queria apenas amigos, viver uma vida em paz, com seus amigos ao redor. Mas se esses amigos estavam lhe levando por um caminho onde só haveria morte e dor, será que ela devia continuar com eles? Por que não arranjava um emprego outra vez, comprava sua casa e vivia como uma pessoa normal? Eu não sou uma pessoa normal. Eu nem sei quem eu sou. Por que deveria querer uma vida normal? Yun suspirou e então observou o sorriso suave voltar ao rosto de Kya.

Yun - Eu gostaria senhora Kya, mas não sei se estarei na cidade por muito tempo. E além do mais, seria perigoso se me encontrassem aqui dentro com a senhora, não?

A menina-lobo dá um sorriso para a mulher e assente logo após.

Yun - Sim, está na minha hora de ir. Mas eu adorei conversar com a senhora. - Yun levantou-se também e se aproximou da janela - Seria de grande ajuda se pudesse me tirar daqui. Não quero acabar tendo que lutar com outro cavaleiro daqueles de novo.

Kya se levanta também e fica ao lado de Yun.

Kya: Bom, eu sei que disse pra você não se esforçar tanto por um tempo, mas talvez seja o jeito mais fácil de você chegar do lado de fora sem ser vista.

A mulher prepara seus cordões, os mesmos que ela havia usado no treino mais cedo e que haviam erguido o cavaleiro dos Blackhorn do chão.

Kya: Ouça, Yun. Você parece ser uma boa garota, mas muito ativa. Lembre-se de descansar bastante até ficar totalmente recuperada e tente não arranjar tantas aventuras até esse momento, certo? Agora, pra você sair daqui, eu vou fazer um caminho até o muro, mas você tem que passar o mais rápido possível para evitar ser vista. Uma vez em cima do muro, você só vai ter que descer em segurança, agora não deve ter nenhum cavaleiro vigiando do lado de fora.

A mulher faz um último cafuné de despedida na garota e então lança seu cordão pela janela, o prendendo alguns centímetros abaixo do topo do muro. Com uma puxada para se certificar de que o cordão estava firme, a mulher sorri para Yun.

Kya: Pronto, você pode ir agora. Fique bem e tome cuidado nessa descida. Você não vai ter problemas se conseguir se equilibrar bem.

O Eloziando puxou sua mangá para longe das mãos do Wescan.

Kennech: Não venha me apelidando, Wescan. Somos colegas de serviço, mas não sou seu amigo. - Olhou para a Mansão dos Blackhorn com preocupação. - Vamos nos reagrupar com os outros dois, deverei reportar isso ao Velho Lobo.

Ambos seguiram todo o trajeto estreito que lhes foram atribuidos e se reuniram na praça principal (Que estava mais movimentada que o período anterior.), lá encontraram os outros dois guardas em pé ao lado da fonte central, vigiando e rindo de suas brincadeiras juvenis.

Bastyar: Viu? A patrulha deles deu em nada também, eu te falei isso.

Lorri: Só acho estranho o quão mal guardada essa cidade é, mas mesmo com tanta gente nada de ruim parece acontecer.

As palavras do rapaz humano pareciam ter previsto o que aconteceria em seguida.

Baderneiro 1: Nois querer mais bêbida, dona.

Moça: Eu vi vocês saindo daquele bar imundo do Trapeiro. Saindo não, sendo expulsos. Se nem eles querem vocês lá, não sou eu que vou vender meu artesanato para vocês!

Baderneiro 2: Senhorita, acho qui a sinhora não intendeu direito, nois IREMOS beber mais.

Na frente da pequena barraca de moça havia uma placa escrito a tinta dizendo: "Fragâncias Caseiras de Licor", era uma coisinha modesta feita de madeira já velha, mas muito bem arrumado. Dos homens bêbados davam para se contar cinco.

Kennech observou e estremeceu ao perceber que um deles (mais sóbrio, aparentemente), guardou no bolso algo que parecia o símbolo da Helia Signa, se estavam a procura de alguém ou só farreando não dava para se saber.

Bastyar: Hey, vocês! - O Elfo chegou se aproximando, tomando a atenção de todos os presentes.

Lorri: Ryoth, vamos, você tem mais experiência nisso, é melhor ir na frente. - Sussurrou para o Wescan.

Aquela algazarra aconteceu rapidamente na frente de Ed, acabando com todo seu sossego.

Resolveu ir para o outro lado da fonte, já que a policia local já estava aqui e poderia cuidar do assunto da maneira correta. Porém, acabou tendo uma pequena visão de um daqueles vagabundos carregando uma insignea da Helia Signa. Se aquilo foi efeito do sol ou era real, não dava para ele ter certeza. Resolveu apenas observar.

Ryoth acenou positivamente, tentando manter uma aparência séria.
Ele um dia, já tinha sido um baderneiro daqueles. Mas agora, não mais.
Ele se aproxima de Bastyar, colocando uma mão no ombro dele

Ryoth: Senhores, o que se passa? Essa senhora não parece muito feliz.

Yun sorri para Kya e assente. Para escapar sem ser vista, teria de se equilibrar em um cordão. Não era uma de suas melhores habilidades, o equilíbrio, mas teria de tentar o máximo para não acabar se metendo em enrascadas, ou pior, acabar piorando a situação daquela gentil mulher que estava lhe ajudando. É tão estranho, tenho uma sensação de nostalgia quando estou perto dela. A menina lobo solta uma respiração profunda e então se posiciona para atravessar aquele cordão até o muro. Olhando para baixo, não era tão distante do chão, mas Yun acabaria se machucando um pouco se caísse justamente por causa dos recentes ferimentos.

Yun - Espero poder ver a senhora outra vez!

Por fim, Yun colocou seu pé sobre o cordão, buscando o equilíbrio para então colocar seu corpo todo sobre ele. Seria bem mais difícil do que ela imaginava, e nessa lentidão, qualquer um poderia vê-la escapando. Foi então que a garota respirou fundo e decidiu usar sua técnica. Não que fosse lhe dar tanto equilíbrio necessário, mas com certeza lhe garantiria uma velocidade anormal para a situação.
Com suas novas características lupinas mais fortes, seus traços quase semelhantes a de um lobo de Ylliria, Yun começa a correr pelo cordão desengonçada, porém velozmente, até alcançar metade do caminho. Quando estava próxima do muro, percebeu que iria cair e em um ato de desespero, utilizou seus músculos das pernas para se impulsionar para frente. A garota-lobo voou alguns metros até cair além do muro, que nem um saco de batatas, no chão. Ouch... isso vai deixar uma mancha roxa... doeu...
Com seus ferimentos doloridos e o corpo exausto da batalha, a menina não perdeu tempo em voltar seu corpo ao normal (para não chamar atenção) e rumar de volta à pousada onde seus amigos estavam hospedados. Precisamos finalizar essa investigação o mais rápido possível. Aquela casa guarda segredos, muitos segredos.