Cidade de Glimmir

Vânia levou algum tempo de Ogaryn até Glimmir. Durante o caminho, seus pés eram os que mais sentiam a mudança de temperatura, gradativamente diminuindo conforme ia mais ao norte. Ela fez o que podia para mantê-los ativos e prontos para o trabalho que viria logo.

O trem parou e ela acompanhou outras pessoas que desciam do transporte. Ele se foi às suas costas enquanto ela contemplava rapidamente o ambiente antes de caminhar. Estava séria. Letho Barriett. Livro Magna Formula. Tybell Blackhorn. Patriarca. Uma boa recompensa. Seus focos martelavam dentro de sua mente. Teria que dar um jeito de descobrir como era o tal Letho e quanto mais rapidamente, melhor. Decidiu ir para um lugar onde as pessoas falavam de tudo e também onde se podia ouvir a conversa alheia com menos chance de ser percebida: a taverna.

Claro, poderia ir para a praça central, mas só apelava para aquele lugar quando não tinha mais opção. Por isso, deu algumas voltas e entrou na taverna que julgou mais movimentada. As chances de conseguir boas informações ali eram maiores.

Quando entrou sentiu o calor humano e o da lareira contra a pouca pele que estava amostra. Sentou-se no balcão como de costume e esperou o barman com um sorriso, os ouvidos atentos às conversas atrás dela.

O barman veio. Era alto, de cabelos de barba loiros. Vestia uma roupa de frio. que cobria quase toda sua pele, exceto o rosto e o pescoço. Então, ele indaga a eloziana

Barman: olha só o que temos aqui, uma eloziana... uma dama viajante a procura de um marido? Uma moçoila perdida? Ou uma simples aventureira procurando por emoção?disse, em quanto limpava alguns copos com uma flanela branca. ou você só quer encher a cara? É uma boa opção também... diz, rindo

O homem guardou o copo que limpava e foi até uma área do bar que continha uma máquina com várias bebidas, ele então fala a Vânia

Barman: temos Whisky, hidromel, sidra, vinho... também temos chás e refrigerantes, caso não esteja apta às bebidas alcóolicas

Vânia deu uma risadinha sarcástica.

Vânia: Apta, você diz? Ora, é claro que estou. Só não sou tola o suficiente para tomar. Não agora. Se puder me ver um refrigerante com pimenta eu seria agradecida...

"Não pergunte nada agora. Deixe a conversa correr um pouco." relembrava a si mesma, em pensamentos quase que involuntários.

O homem assente com a cabeça. Ele pega um copo de vidro e vai até uma máquina, repleta de tubos e engrenagens. Ele pega um pouco de pimenta, e mói-a. Em seguida ele adiciona água e coloca um dos tubos da máquina no copo, colocando o gás na bebida.

Barman: aí está moça. diz, colocando a bebida em cima do balcão

Vânia logo vira o copo, bebendo até a metade dele. Ela estala os lábios e resolve começar suas perguntas com uma bem casual, apesar de com o jeito de sempre.

Vânia: Tem vindo outros forasteiros para cá ou sou realmente algo raro por aqui, hm?

O homem solta uma risada e diz, num tom jocoso

Barman: forasteiros? Haha... ninguém quer vir para esse fim de mundo não garota... Glimmir é uma cidade bem grande, mas sabemos quando alguém não é daqui. De fato, as únicas pessoas que vem para Glimmir não passam da linha de trem... diz, rindo

No entanto, ele parou um pouco, e voltou a falar, pensativo

Barman: mas... tem sim alguém novo por aqui. Ele chegou faz uns dias. É um homem alto, deve ter 1,78... por aí diz, coçando a barba possui costas largas, cabelo preto... ele carregava um monte de coisa consigo, incluindo um livro... diz, pensativo um livro bem grosso por sinal...

Vânia foi obrigada a beber outro longo gole para se controlar e não dar umas bastonadas no barman por ter rido dela. O esforço valeu a pena. Algo dentro dela estalou fortemente com toda a descrição que o homem estava oferecendo. Especialmente com o detalhe dos livros.

Baixando o copo de volta ao tampo do balcão, questionou mais uma vez, o sorriso maior:

Vânia: Hum, interessante esse tal forasteiro... Sabe o nome dele?

Seria uma sorte caso soubesse.

O homem arqueou um pouco a sobrancelha, pensativo.

Barman: hmmm... não me lembro ao certo... é Ledo, eu acho o barman virou-se para um homem, próxima a uma das portas que dava entrada a cozinha e disse Kristjan, você se lembra do nome daquele branquelo que chegou na cidade uns dias atrás?

Kristjan: acho que era Laet... Leet... ou Ledho... sei que começa com "Le"

O Barman deu de ombros e voltou a falar com Vânia

Barman: pois é, moça, é alguma coisa assim, Laet, Led, Ledo, Leto... qualquer coisa do tipo...

Bem. Valia a pena arriscar.

Vânia limitou-se a murmurar depois disso. Bebeu naturalmente até ir embora, matando o tempo ouvindo o ambiente e sem se socializar mais. Ela pagou 2 talentos para o barman graças ao refrigerante, descontando um por estar com menos pimenta que o esperado. Foi embora antes que ele pudesse reclamar. Agora tinha que caçar o tal Letho.

Ele era um forasteiro numa terra gelada com um livro precioso, especialmente para ela, em mãos. Decidiu andar perto de lojas e hospedarias para buscá-lo. Agora que tinha sua suposta aparência física, seria mais fácil identificá-lo.

O sol estava se pondo em Glimmir, e a cidade ficava cada vez mais fria. Ao passar pelas ruas, Vânia podia escutar murmúrios das pessoas, tais como:

"Aquele homem não apareceu mais... o que será que ele está fazendo?"

"Esse tal de... Lesto... Laedt... Lério... onde ele está agora?"

"Ele parecia apreensivo... parecia estar... fugindo de algo"

As ruas pareciam inquietas com a presença desse homem em Glimmir... como se o temessem

"Droga!" ela pensou, subitamente numa mescla de ansiedade e raiva. Como assim não apareceu mais?! "Maldição! Se não me apressar de uma vez, acabarei perdendo o rastro do maldito cara!"

Tinha que pensar rápido. Aonde se iria caso quisesse fugir, desaparecer, ir para o lugar mais distante possível?

A conclusão mais rápida: ao porto.

Vânia saiu correndo em disparada, cortando o ar gelado que lhe feria a pele como um monte de cacos de vidro sendo atirados contra ela. Falhar não estava em cogitação. Falhar não estava! O capuz foi para trás, deixando inofensivas suas orelhas incomuns ao vento gelado, os cabelos longos esvoaçando.

Chegando ao porto, procurou desesperadamente e sem cerimônias pelo homem que batesse com a descrição do barman, olhando para todos os lados, tanto em terra quanto nos navios.

"Onde está aquele maldito?!" pensava quase em grito.

O porto de Glimmir estava bem movimentado, duas pessoas saem de um navio flutuante. Um homem, vestindo uma armadura roxa-avermelhada. E uma mulher, vestindo um manto com um capuz que cobria o rosto quase que por completo. O homem de armadura vermelha fala a garota, em quanto ambos se distanciavam do porto.

Homem: Keela... será que o Letho está por aqui?

Keela: Pawa-qai... duvido que ele esteja por aqui... disse, a garota falava num sotaque estranho, um tanto arrastado, tremendo bastante os "erres" mas ele nos disse que estava hospedado num hotel por aqui, não? Sibel?

Sibel (o homem): sim, ele disse isso... Mas você sabe como Letho é... disse, suspirando ele falou de um tal de "Hotel Kadrek"...

Keela: será que não estamos na cidade errada?

Sibel: claro que não, por que ele faria isso conosco?

Como estava correndo, não conseguiu ouvir nada do que falara o homem que acabara de chegar antes de Letho. Ela disparou quando ouviu o nome do Hotel, deixando o restante da conversa para trás.

Voltando para o meio dos prédios, as orelhas já lhe doíam bastante. Quando achou o Hotel controlou a própria ansiedade para que Barriett não suspeitasse de coisa alguma, estivesse onde ele estivesse. Vânia cobriu a cabeça com o capuz e usou os cabelos brancos para cobrir um pouco as orelhas. Conteve a respiração ofegante, os pulmões sendo feridos pela temperatura do ar que entrava neles.

Abriu a porta com naturalidade, mas debaixo do roupão de couro já preparava uma mão para a espada e outra na adaga, o que precisasse ser usada primeiro. Foi até o recepcionista do local e afirmou em tom formal:

Vânia: Trago uma mensagem para Letho Barriett.

A recepcionista arqueia uma sobrancelha e então diz, surpresa

Recepcionista: Letho? Estranho... ninguém veio visitar esse homem... ele parece ser bem reservado... de qualquer forma. Está no terceiro andar, trigésimo sétimo quarto. No final do corredor. disse, gesticulando

Vânia fez um breve aceno como agradecimento e foi subindo os andares sem dizer uma palavra sequer, primeiro devagar, depois às pressas e assim foi até conseguir alcançar o quarto 37. Sua vontade era de arrombar no chute aquela maldita porta, mas ardendo de raiva obrigou-se a bater duas vezes, a outra mão pronta para puxar a espada.

Pode entrar - disse uma voz rouca, de tom tenor, provavelmente a voz de Letho

Permanecendo encapuzada e baixando a cabeça para que ele não visse seu rosto, Vânia entrou no quarto de Letho lentamente, os músculos quase formigando para atacá-lo logo. Sabia, no entanto, que deveria cumprir o serviço com nenhuma testemunha ou o mínimo possível.

Vânia: Trago uma mensagem importante. - foi dizendo enquanto adentrava no aposento e ia fechando a porta devagarinho. Procurou manter o tom de voz neutro, mas falhou um pouco com um sorriso que rasgou seu rosto de orelha a orelha sem qualquer sentimento além de vitória e ansiedade pela total conquista.

Assim que a porta foi totalmente fechada, deu uma olhadela para saber onde Barriet estava. Do outro lado, pensou com certo desânimo. Concluiu que deveria se aproximar e lentamente.

Vânia: Muito importante. - repetiu enquanto andava, a voz ainda contida.

O homem, alto, de costas largas, estava próximo a um dos cantos do quarto, olhando pela janela. Ele vestia uma armadura de couro preta, com detalhes azuis. Os cabelos de Letho batiam até a altura da nuca, cobrindo as laterais do seu rosto, impedindo que Vânia visse a face dele.

Num tom soturno e sério, sua voz ecoou pelo quarto ao sacar uma espada, que estava "escondida" (pelo menos a visão de Vânia, não era possível ver a presença da espada que estava encostada no canto do quarto). Ele aponta-a para a caçadora e diz:

Letho: diga ao desgraçado do Tybell que eu não vou devolver esse livro a ele, nem por cima do meu cadáver...

Ela parou na metade do caminho. Gradativamente uma risada divertida e sem nenhuma graça foi se tornando audível, uma hora evidentemente saindo do fundo dos pulmões para fora. Ela se deixou dobrar um tanto e parou o riso de súbito. Nisso Vânia puxara a própria espada, mas ao contrário de Barriett não apontou-a para o adversário; do contrário, manteu-a cruzada frente ao seu corpo.

Mais um resto de risada e os olhos cintilavam numa mistura de prazer e raiva. Aquele bandido havia conseguido deixá-la de mau humor antes mesmo de se enfrentarem e por isso pagaria.

Vânia: Muito obrigada pelo desafio! - afirmou um tanto exaltada - Será maravilhoso humilhá-lo! Agora... devolva o livro! - e avançou contra o adversário preparando-se para realizar uma defesa. Queria que ele desse o primeiro golpe.

Letho por fim, vira o rosto por completo para Vânia. Algumas mechas caiam no seu rosto, mas ainda assim era possível vê-lo com clareza. Era bem jovem (a julgar pela estatura do homem), Letho tão aparenta ter mais de 20, ou 21 anos.

Os olhos azuis-claros dele fitavam a caçadora com fúria. Eram penetrantes e exalavam raiva. Por fim, seus lábios se mexerem ao falar:

Letho: o que? Este livro? disse, puxando o livro que estava escondido sob sua armadura, e depois pondo-o de volta. me obrigue...

ao dizer isso, Letho gira a espada num rápido movimento, brandindo-a contra a lâmina de Vânia

Vânia deixa escapar um grunhido alto quando sente o choque das armas. Tinha, mas força física não era sua característica mais marcante, logo ela foi obrigada a segurar o punho da espada com ambas as mãos. Mesmo assim ela não deixou a arrogância muito tempo encoberta. Com certo esforço deu um jeito de se afastar num pulo do jovem e assim pegar a adaga, já que, longe da pressão da espada adversária, não precisava segurar a sua com tanto esforço.

Pronta com as duas armas, ela avançou outra vez, mirando um corte contra as pernas do oponente.

Vânia: Nada se obriga aos mortos, sabia?!

Letho: nas minhas duas décadas de vida, eu já vi muitas coisas, e posso descordar de sua afirmação disse, pondo a espada numa postura defensiva, defendo os ataques de Vânia.

Ele havia defendido a investida, mas estava encostado contra a parede, qualquer ataque naquele momento poderia ser fatal. Num misto de desespero e agilidade, Letho dá um pulo, alto e ágil, "pousando" em cima da cama, ainda mantendo a guarda

Letho: me diga, foi Tybell que te mandou, não foi?

A caçadora acompanha o pulo com o olhar e antes que pudesse reagir Letho já estava sobre a própria cama. Antes de falar, iniciou um ataque horizontal com a adaga que planejava atingir o ponto fraco que era a junta da armadura, precisamente na perna esquerda do oponente.

Vânia: Sim e não!

Letho defende com precisão o ataque de Vânia, bloqueando a lâmina da espada com a sua, no entanto, ao fazer isso, ele acaba caindo da cama, pousando no chão.

Letho: argh... droga... diz, levantando-se, desajeitadamente, tentando "repor" a guarda sim, e não? Ora, ou sim, ou não! Diga-me, foi Tybell quem te enviou? falou, apontando novamente a espada, com um pouco de dificuldade; na queda, Letho caiu sobre o próprio braço, ferindo-o