Vilarejo de Pyllena

O Espectro observou Siegmund, sendo tirado dos seus devaneios, enquanto lembrava da sua vida. Ele suspirou, levantando-se.

Espectro - Pois você precisa entender.

E mais uma vez, o lobo espectral abaixou sua cabeça, para que o mago colocasse sua mão, e ambos fossem levados à outro lugar.

Espectro - Mostrarei-lhe os motivos por trás dele... mas você deve entender... você deve me entender antes.

O mago bufou de impaciência, mas fez o que lhe foi pedido, esperando a próxima cena acontecer.

O Espectro fechou os olhos, fazendo com que aquela paisagem onde estavam começasse a sumir novamente. E como antes, apenas o lobo espectral sobrou, afinal os elozianos se tornaram sombras e depois o pó. Sim, eles deviam ser apenas pó, agora.

Paredes começaram a se erguer ao redor de Sieg e do lobo, formando um quarto amplo e bem iluminado. As paredes e o chão eram de madeira polida. Havia várias estantes repletas de livros, e uma mesa comprida no centro, cheia de bugigangas. Havia papéis espalhados e riscados, como se tivessem sido corrigidos diversas vezes, pipetas e buretas, tubos de ensaio, béqueres, balões volumétricos, tudo isso.
Os recipientes de vidro estavam cheios de líquidos coloridos, porém de cores escuras, e esquentavam em cima de Bicos de Bunsen. 
No outro canto, havia um balcão, e sobre ele várias ferramentas e utensílios que brilhavam contra a luz dos lampiões.
Um elfo alto e magro, de longos cabelos loiros e olhos azuis estava sentado em uma cadeira, em frente à maior concentração de papelada daquela sala. Ele tinha sua cabeça apoiada pelos dois braços, como se estivesse ali por bastante tempo. Sua expressão era séria e concentrada, ele parecia pensar muito no que estava lendo.
Ao seu lado, estava o Espectro, observando. Por vezes, ele buscava um livro e entregava ao seu dono, esperando que pudesse ajudá-lo, mas o elfo estava concentrado demais para perceber.

Elfo - Cyffur! Como posso...!

O homem apertou os olhos, lendo as letras miúdas da folha, esticando as costas e jogando as mãos para o alto.
Ele bufou, irritado com sua incapacidade de entender aquilo que estava sendo explicado.

Elfo - Eu devo ser um fracasso, não acha, Nashed? Estou aqui, enfurnado nesse quarto em busca da cura daquela maldita... Crenas-Dubh! Já consegui salvar alguns... mas de que adianta? Salvo dois, e mais cinco ficam doentes... preciso encontrar a cura Nashed!

Este era Shaoll Tawynes, um mago-alquimista que lutava para salvar seu povo da Praga Negra. Já havia conseguido ajudar vários doentes, mas a cura em si não estava ao seu alcance ainda. Ele tentava o seu possível para encontrar uma maneira de salvar seu povo amaldiçoado.

Shaoll - Nashed... você se lembra quando tudo começou...? Não posso desistir, não é? Ela disse para nunca desistir. Certo... que tal um refresco e então voltamos ao trabalho?

Shaoll levantou-se, para sair do cômodo, porém observou uma folha caída. Como se em um momento de choque, ele buscou o papel e se sentou na cadeira de novo, escrevendo freneticamente.
Shaoll Tawynes encontrou a cura da Praga Negra, ou melhor, Crenas-Dubh, algum tempo depois. Com isso, salvou muitas vidas, e continuou sua vida de alquimista. Nada poderia tirar o seu mérito. O mérito de ter ajudado inúmeras pessoas, de ter dado um futuro à elas.

O Espectro suspirou, mais uma vez sendo tomado por aquele sentimento de nostalgia. Ele lançou um olhar à Siegmund, e então a escuridão tomou conta dos dois novamente.
A paisagem mudou de forma drástica, levando os dois que estavam apenas observando, para um quarto onde havia uma mesa com cadeiras, uma estante de livros e uma lareira. Estava frio lá fora e a neve se acumulava no parapeito da janela. O sol já estava há muito escondido por detrás das montanhas, e a lua não podia ser vista no céu nublado.
Um homem estava sentado em uma das cadeiras da mesa, apoiando o rosto com uma das mãos. Ele parecia tremer, mas na realidade, estava chorando.
Lá estava, mais uma vez, o espectro, perto do rapaz.

Homem - Aëros... Aëros o que eu vou fazer se ela morrer? Ela é minha vida... a minha irmã... Aëros...

O homem ficou daquele jeito por alguns minutos, até levantar-se de forma brusca, limpando o seu rosto. Ele olhou para um quadro pendurado na parede do cômodo, e depois voltou seu olhar ao espectro.

Homem - Vou honrar meu nome Aëros! Vou salvá-la usando todo o poder que conseguir capturar! Você vai me ajudar, não vai, companheiro?

O lobo espectral fez uma leve reverência ao seu mestre. Esse rapaz se chama Reyons Garrek, é um mago ritualista bastante poderoso e experiente. Atual dono do Espectro, vindo de uma família com um passado negro.

Assim, o Lobo-Espectro olha para Siegmund, como se tentando ver se o mago havia entendido o que estava acontecendo. Ele queria mostrar as reais intenções de Reyons, que havia se perdido na escuridão ao tentar inutilmente salvar a única coisa que restara de bom na sua vida.

Espectro - Agora você entende?

- Um pouco, estou confuso - disse frustrado - Você quer minha ajuda para impedir Reyons? Eu não tenho certeza disso...

Aquilo tudo foi tão rápido para Sieg, chegou na vila para caçar um espectro e o mesmo lhe pede ajuda para impedir um ritualista, era algo enrolado para assimilar apressadamente.

- Todas essas memórias... Já se faz quanto tempo que você acompanha seus donos em jornadas?

O Espectro olha para Siegmund, ainda naquela ilusão por ele criada. O lobo suspira, e desvia o olhar para o seu dono atual, que estava parado como uma estátua, nas memórias.

Aëros - Três séculos... tenho o que você poderia dizer 321 anos. O que eu lhe peço é para que consiga impedir Reyons, mas não o mate. Tudo o que ele quis fazer foi salvar sua irmã, mas foi corrompido com sua magia ritualista. Todos os pactos de sangue que fez... tudo... o consumiu. Ele a esqueceu, como se ela nunca tivesse existido.

Subitamente, o lobo solta um ganido e a imagem onde Sieg e ele estavam desaparece como fumaça. Os dois voltam à Pyllena, e o espectro começa a se mover rápido, para longe.
Perto de onde estavam, Trevor, Cynthia, Devy e Jhorel haviam chego e atacado o ser brilhante.

Cynthia: Quase pegamos ele!
Trevor: Tenho certeza que vai mostrar o caminho até o seu dono, não podemos perder a chance. Sieg, dessa vez, fique perto de nós. É perigoso demais sair sozinho, tenha isso em mente para não cometer o mesmo erro na próxima vez.

O líder do grupo não estava irritado, mas parecia incomodado que o novato tivesse se precipitado dessa maneira. Ele gostaria que o grupo todo estivesse junto desde o início nessa jornada.

Sieg se levantou e viu o animal fugir, após a pequena dura de Trevor, o Mago o apenas olha e assente com a cabeça assim seguindo em direção ao espectro.

"Não mata-lo...salvar sua irmã...corrupção...ritualismo..." As palavras ecoavam na sua mente, não sabia porque, mas tinha de ajudar. O rapaz seguiu o caminho por onde o espectro fugira, na tentativa de achar algo que possa levar a Reyons.

O grupo corre atrás de Sieg, se juntando à ele naquela busca. Cynthia parecia estressada com as atitudes do mago, mas Jhorel tratava de animá-la com algumas piadas sem sentido. Devy permanecia em silêncio ao lado de Trevor, ambos concentrados no que deveriam fazer.

Ao longe, podia-se ver uma grande casa, que parecia emanar uma aura pesada e negra. Era a tal "casa mal assombrada" que todos falavam. Nenhum civil chegava próximo dela, depois de todos os boatos, e agora o grupo dos grifos sabia exatamente o por quê.
O local tinha uma aparência um tanto aterrorizante demais. As paredes velhas e descascadas, o telhado sujo e torto, a grama mal cortada ao redor da residência. Tudo indicava os mal tratos daquela casa, ou melhor os "não tratos". (hu3)
O Espectro entrou, pulando uma janela, e deixando as ruas escuras como eram antes de ter sua luz brilhando forte.

Sieg corria, mas seus pensamentos não estavam ali, imaginava o que teria acontecido com os antigos donos do Espectro de Muitos Nomes. Porém sua imaginação foi interrompida quando avistou aquela casa, feia e horrível, parecia tão morta como seus "possíveis antigos donos". Quando o espectro entrou pela disse:

- Devemos ter cuidado, não estamos lidando com um espectro e sim com um Ritualista - Falou para os companheiros enquanto se escondia atrás de uma moita para espionar qualquer movimento da casa. Esperava que algum de seus novos colegas soubessem que tipo de mago seria esse.

Trevor olhou surpreso para Siegmund, ao escutar a palavra ritualista. Eles estavam lidando, então, com um mago bastante perigoso e poderoso. Poderia ter feito pactos e mais pactos, assim, sua energia seria muito maior. Com certeza, uma batalha contra ele não seria nada fácil.
Eram nesses momentos que o líder se arrependia de ter trazido o novato. Não que Sieg não fosse capaz de ajudá-los, não era esse o ponto. Trevor apenas odiava colocar mais pessoas em perigos desnecessários.

Cynthia: Tá louco! Um mago ritualista? Você está falando sério?
Devy: Ele não brincaria em uma hora dessas Cynthia! E fale mais baixo!

Os grifos suspiraram, voltando suas atenções à "casa mal assombrada". Eles deveriam estar preparados para o que estava por vir, e mesmo que já tivessem feito trabalhos parecidos com esse antes, ainda sentiam o nervosismo pregar-lhes peças.
Jhorel se aproximou de Siegmund, com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto.

Jhorel: Sieg, os magos ritualistas são muito poderosos. Eles usam do seu sangue como fonte de poder. Fazem pactos com espectros, e tudo isso em prol da energia que vão ganhar. Eles têm poderes incríveis e inimagináveis, não se engane e não pise em falso. Qualquer erro que cometermos aqui, poderá ser o último das nossas vidas.

Assim, todos os quatro grifos começaram suas preparações. Eles não tinham exatamente um plano, só esperavam que suas chances fossem boas, e que além disso, a sorte estivesse do seu lado. Caso contrário... a única coisa que desejavam era sair com vida de lá, missão resolvida ou não.

Sieg assente para Jhorel, mostrando entender o quão perigoso um ritualista podia ser, todo cuidado seria pouco para a luta que estava por vir. "Imagino que esteve mago não esteja esperando um grupo variado, principalmente de membros da Guilda dos Grifos, devo botar fé nisso."

- Escutem - Disse ao grupo - sei que sou o novato e não estou apto a liderar um time, mas graças ao Espectro, sei quem iremos enfrentar. Eu poderia ir na frente, e vasculhar a casa, se o Ritualista estiver ai, podemos armar uma emboscada. - Poderia distrair ele, pensou, talvez Aëros estivesse lá para ajuda-lo. Tinha de acreditar nisso.

Os grifos olham para Siegmund bastante surpresos. O Espectro havia conversado com ele? Isso era algo raro, principalmente para um novato.
Trevor colocou a mão no ombro de Sieg, com uma expressão séria estampada no rosto.

Trevor: Não sou do tipo que gosta de mandar colegas para a morte certa. Estou curioso sobre o motivo do espectro ter conversado com você... mas isso deve ser um sinal de que ele confia na sua pessoa. - o líder suspira, voltando seu olhar para a casa - Devemos ser sensatos nesse momento... Devy e Sieg vão entrar e vasculhar a casa. Cynthia e eu estaremos circulando a construção para ter uma visão limpa pelas janelas, já que usamos armas de distância. Jhorel... você sabe o que fazer. Estamos entendidos?

Os grifos assentiram para o seu líder, ajeitando suas armas para o que estava por vir.

Sieg não aceitava aquilo, mas não achava que seria uma boa hora para contrariar e desafiar as ordens do líder do grupo. Apenas assentiu e se preparou.

Eles seguiram em frente, cada um em sua posição. Jhorel, como se fosse um passe de mágica, havia sumido. Na verdade, estava muito bem escondido e camuflado, nem os mais cautelosos o perceberiam. Trevor e Cynthia começaram a rodear a casa, tentando uma vista limpa de onde o ritualista estava. Já Devy lançou um olhar à Sieg e assentiu, abrindo a porta para entrar na casa mal assombrada.
Por dentro, a residência era escura como a noite, e o pouco que podia ser visto, estava sendo iluminado pela luz da lua. A grifa ao lado de Siegmund tomava cuidado com os seus passos, para não bater em algum objeto oculto nos corredores da construção.
Longe, na última porta visível pelo caminho onde seguiam, havia uma iluminação, como se fosse de velas. O cheiro do sangue já começava a irritar os dois que estavam dentro da casa, e a medida que mais se aproximavam, mais o odor aumentava.

Sieg se aproximava ao passo lento em direção a luz misteriosa na ultima porta, chegando aos cuidados lá. 
"Deve ser ele" pensou, suas mãos suavam frio e a cada segunda o coração batia rápido, mas apesar de tudo, não fazia suas emoções se mostrarem no seu rosto.

Encostado na parede ao lado da porta, Sieg faz um sinal para Devy de que está pronto para um entrada abrupta ao sinal dela.

A garota também se encosta na parede e assente para Sieg, entendendo que o rapaz estava preparado para entrar. Ela respira fundo, segurando forte sua espada. Essa seria uma batalha difícil, e esperava que tudo desse certo. Enquanto se aprontava, olhou para Siegmund e pensou que iria o proteger. O rapaz era novo naquilo, e ela não podia deixar que ele se ferisse, sendo uma das veteranas.
Por fim, Devy assentiu e deu o sinal, empurrando a porta para adentrar no quarto com sua arma empunhada.
O local era um tanto grande, mas tinha apenas uma mesa com alguns papéis e um lampião em cima. Perto dela estava um homem vestido de uma capa preta, de costas. Ele estava parado no centro de um pentagrama desenhado com sangue, no chão. Nas pontas da estrela havia alguns objetos como colares, facas e até mesmo um óculos. Era como se fossem... relíquias para aquele ser que ali estava, completamente imóvel.

Devy: Mas o que...?