Floresta de Mirka

Agilmente, Aron desviava das árvores, as pegadas de Yun e do lobo monstruoso que acompanhava ela ainda eram claras. Em pouco tempo o cheiro de sangue penetrava as narinas do rapaz, que se sentia um pouco enjoado com aquilo. Chegando em uma espécie de clareira, Aron consegue avistar sua amiga em meio a uma cena chocante.

Subitamente, o vento começava a ecoar pela floresta, as gramíneas começavam a se curvar, e uma misteriosa figura surgiu, em meio a floresta... era o misterioso homem encapuzado o qual Yun sonhava, o homem que Yun encontrara a tempos, em Brastel

Homem: parece que nos encontramos de novo, Yun Vänker fala, se aproximando vagarosamente da garota, sempre com o seu rosto totalmente ocultado pelo capuz

Ainda escondido em meio a árvores e altos arbustos, o garoto apenas observa de longe. Yun estava coberta em sangue, em cima de um cadáver. A clareira cheia de lobos mortos. Ele imaginava como aquela cena devia ser muito horrorizante para sua amiga.
— (O que drogas está acontecendo?)
O rapaz decide esperar um pouco, ele conseguia avistar um ser encapuzado próximo a sua amiga. Sem saber o que fazer, Aron decide apenas esperar obter algumas informações mais sobre a cena, aparecer naquela hora podia não ser a melhor ideia.

Yun continuava com aquilo, até deixar nada mais do que pedaços de carne e
entranhas em meio a uma grande poça de sangue. Seu corpo todo estava
coberto de sangue, seus dentes pontudos à mostra.

Não havia mais aquela menina que o grupo conhecera, agora estava ali um monstro. Sua verdadeira face. Um monstro... eu sou um monstro... mas eles... eles também... e nesse mundo... não há como viver sem ser um.

Ao perceber o homem encapuzado, Yun o observa calada, ainda com as lágrimas escorrendo dos seus olhos. Ela não passava agora de uma fera desesperada. Havia esquecido como era falar, como era ser humana.

O homem encapuzado vê o que restara do soldado, e responde, mantendo a postura séria e misteriosa

Homem: pobre garota... deve ser mesmo difícil ver seus parentes mortos, não é, Yun? diz, num tom triste é triste ver "meus filhos" mortos dessa maneira... eu gostaria de poder ter evitado o que aconteceu... mas essa foi a escolha deles... e existem coisas as quais eu simplesmente não posso fazer suspira

O homem anda mais um passo, se aproximando de Yun, olhando para a garota

Homem: mas nada é preto e branco... a quem posso culpar? Os soldados? Que cruelmente atacaram minhas criações... que se quer tiverem a decência de recuar... suspira, olhando para o cadáver de outro soldado ou eu culpo os lobos de Ylliria? Que atacaram os soldados sem razão nenhuma... soldados estes que serviam a Helia Signa? Soldados estes que foram forçados a serem soldados... homens e mulheres que tinham pais, irmãos e filhos, soldados estes que se perderam da armada principal, que marchava para Marsivel, soldados esses que são apenas peões nessa guerra... torna a ficar cabisbaixo, olhando para o lobo que estava morto, próximo a Yun

Yun arregalou os olhos para o homem encapuzado, pensando naquilo que ele havia falado. Ela ainda estava tremendo, mas agora seu corpo estava voltando ao normal. A sua humanidade estava voltando.

A menina deu dois passos para trás e lançou mais um olhar para os restos mortais do soldado que havia estraçalhado há pouco. Ela levou as mãos para a frente da sua boca, um tanto chocada com o que havia feito. Seu estômago subitamente se embrulhou e sem conseguir evitar, ela virou-se para o lado, vomitando. (eca, nojin)

Yun - O-o que... foi que... eu... fiz...?

Suas lágrimas somente escorriam mais e mais a medida que se lembrava de tudo que passara. O cheiro de sangue do local era insuportável e agora a menina estava banhada nele. No sangue daquele soldado que só estava lutando pela sua vida, para depois voltar à sua família, seus filhos (se tivesse).

Yun olhou para o ser encapuzado, ajoelhando-se na frente dele enquanto apoiava o corpo nos braços (que estavam apoiados no chão xD). Seu rosto estava escondido pelo longo cabelo loiro, que agora era vermelho.

Yun - M-me... desculpe... me... desculpe...

O encapuzado se ajoelha, colocando a mão no ombro da garota

Homem: não é para mim que você deve se desculpar... eu não tive nada a ver com isso... diz, suspirando essa é sua natureza... quem pode impedi-la, além de você mesmo? diz, levantando-se

O encapuzado cruza os braços e fala para Yun

Homem: você é única... sua natureza é peculiar, e eu não posso impedi-la... mas você pode. Você abraçar e acolhe o que você é, mas ao mesmo tempo, mediar e controlar seus impulsos... isso, ninguém pode fazer além de você mesma. Quem pode impedir um sabiá de cantar, um peixe de nadar, ou um mago de algo conjurar? diz, olhando na direção em que Aron estava escondido

O encapuzado suspira novamente e volta a olhar para Yun

Homem: não culpo você pelo ódio... você não sabia disto... mas você precisa entender os dois lados da história dá de ombros mas acho que é pedir demais, não? Afinal, está é a natureza humana... mesmo que, você não seja completamente humana

O homem, por fim, começa a recuar, desparecendo entre as árvores da floresta de Mirka

Yun continua olhando para o chão na mesma posição, chorando. O que ela havia feito era imperdoável. Havia usado as suas habilidades para algo pior, para causar a morte de alguém que nem mesmo sabia o que estava acontecendo. Ele e os lobos poderiam ter errado, mas ela também.

Yun - Me... desculpe... me... desculpe... me... desculpe...

Aron sente um arrepio quando o homem encapuzado olha em sua direção enquanto falava. O garoto estava realmente confuso, mas ele sentia que Yun precisava de algum conforto, de um ombro amigo. Lentamente o jovem mago vai abandonando sua cobertura, seu nariz já havia se acostumado com o forte cheiro do local. Já caminhando na direção de Yun, Aron chama, em um tom gentil.
— Yun...?

Ao escutar aquela voz, a menina sente o desespero crescer. Sua respiração estava acelerando mais uma vez e a raiva pelos seres que haviam ferido seus parentes voltava a crescer. Mas aquele rapaz não era inimigo, por que estava se sentindo assim? Já não bastava ter estraçalhado uma pessoa aleatória, teria agora que ferir algum amigo seu?

Yun - Não! - gritou entre os soluços do choro - Não se aproxime... de mim... agora... não agora... eu não quero te machucar...

Aron continua se aproximando, um passo de cada vez, enquanto se aproximava, o garoto tentava acalmar sua amiga.
— Yun... tudo vai ficar bem, calma. Sou eu, o Aron... Não quero lhe fazer mal algum.

Yun fecha os olhos, tentando controlar-se, mas sem sucesso. Suas garras já estavam aparecendo de novo e nisso, ela virou-se, uivando para Aron.

Yun - "Não... não..."

A menina começa a caminhar na direção do rapaz, seus instintos tomando conta do seu corpo.

Aron começava a sentir um pouco de medo, mas no fundo, ele acreditava em sua amiga. Sem recuar, porém avançando cada vez mais lentamente, o garoto começava a suar um pouco.
— Yun... isso não é o que você quer, certo? Eu sou seu amigo. Calma, tudo vai dar certo...

Yun se abaixa, soltando um alto uivo e acelera o passo na direção de Aron, chegando bem perto dele e levantando a mão/pata para dar uma "garrada" no seu peito. Contudo, quando estava prestes a fazer isso, ela parou. Sua mão no ar tremia, assim como todo o seu corpo. Seus olhos, mesmo que bestiais, estavam encharcados, como se fosse uma cachoeira de lágrimas que teimavam em continuar correndo.

A menina voltou ao normal, observando seu amigo e percebendo seu medo. Aquilo, por mais que fosse culpa dela própria, a feriu intensamente. Ora... quem não ficaria com medo de um monstro assim? Até ele... o homem encapuzado havia dito. Ela não era completamente humana. Havia algo de errado em si. Algo de muito errado.

Yun - Me perdoe Aron... eu... feri um humano... eu o matei... eu...

Aron estende seus dois braços para frente, abraçando sua amiga. Mesmo sem ter muita ideia do que fazer, o garoto precisava confortar Yun, ele não aguentava ver a garota sofrendo daquela maneira.
— Calma, calma... tudo isso já passou. Não se preocupe, tudo vai ficar bem...
Apertando seu abraço ainda mais, Aron fala baixo, em um tom gentil.
— Você não precisa se preocupar mais...

Yun fica abraçada no rapaz, ainda chorando. A dor que sentia por causa do que havia feito só aumentava e a fazia colocar a mão no seu tórax, tentando amenizar o que estava sentindo. Era disso, então, que os seus colegas de trabalho falavam. Desse monstro, dessa sua outra face.

Até o "amuleto" parecia desapontado, por mais que dissesse que não era sua culpa, era sim. Ela poderia ter tentado se controlar, mas deixou que os sentimentos selvagens a controlassem. Deixou que eles tomassem conta da sua consciência. Deixou que a tornassem brutal, uma fera sem coração. A única coisa que tinha medo de se tornar...

— Todo mundo comete erros... vez ou outra é inevitável que isso aconteça, Yun. Você não deveria se sentir tão mal por isso.
O garoto se afasta um pouco de sua amiga, para olhar seu rosto. Movendo gentilmente sua mão, Aron tenta limpar as lágrimas de Yun.
— Lembre-se que estou aqui... se precisar contar qualquer coisa, estarei ao seu lado para ouvir. Não precisa guardar tanta dor para si mesma. Amigos também são bons para isso.

Yun - Meus... parentes... estão mortos... esse sangue... que escorre de mim... é de uma pessoa... que tinha uma família... eu fiz a mesma coisa que ele... eu o tirei de alguém, assim como me tiraram as coisas mais importantes da minha vida...

Murmurou, enquanto escondia o seu rosto do rapaz. Ela não queria que ele a visse naquele estado deplorável, apesar de nunca ter se preocupado com aparência. De alguma forma, sentia vergonha por ter sucumbido à sua natureza daquela maneira.
Cogitava inclusive... afastar-se do grupo. Por mais que doesse, não os estaria colocando em perigo. Todos eram tão... maravilhosos. Não mereciam um monstro como ela ao seu lado. Definitivamente, não.

Aron leva sua mão até a cabeça de Yun, acariciando-a carinhosamente.
— Sim, mas agora está tudo bem. Me desculpe por não ter chegado antes, Yun. Se eu tivesse chegado antes... talvez tudo isso pudesse ter sido evitado...

Yun - Não... não era sua... obrigação... era minha... eu que não fui... capaz de me controlar...

Yun voltou a olhar o seu amuleto, também encharcado de sangue. Sangue... aquilo estava a incomodando muito. Aquele cheiro a deixava enjoada, o que era algo incrível, já que a menina sempre comera carne crua, ou seja, com sangue. Mas agora...

Tentar animar Yun enquanto estava naquele local não iria dar certo. Percebendo isso, Aron abraça novamente a garota, só que dessa vez de forma diferente. Seu braço enlaça a cintura de Yun, e Aron começa a caminhar para longe daquela cena.
— Yun, é melhor para você se afastar daqui, pelo menos por enquanto. Vamos para um lugar mais fresco, com um ar mais puro. Lá poderemos pensar e conversar melhor.

Yun assente, mas sabia que aquele cheiro iria a perseguir por muito tempo. Afinal, estava impregnado no seu corpo, e agora, na sua memória.
Lembrar daquela cena a embrulhava o estômago e ela se esforçava pra não passar mal na frente de Aron.

Yun - Frio... está... frio...

Disse, tremendo, continuando a caminhar ao lado do seu amigo.

Aron retira seu manto. Embora ele estivesse cheio de furos e rasgos, além da cobertura de sangue que agora havia, era melhor do que nada para esquentar a garota. O rapaz coloca seu manto sobre os ombros de Yun.
— Tudo o que eu puder fazer para lhe confortar, Yun, eu farei.

Yun - Obrigada...

Respondeu, sentindo-se mal por ter uma pessoa tão boa ao seu lado. Ele não merecia isso, nunca.

Aron fala, ainda meio triste por sua amiga.
— Você não tem que me agradecer... somos amigos, não é?